domingo, 17 de agosto de 2008

Mãe de Bailarina

Pesquisando passos de ballet junto com minha filha Alice, achei por acaso este texto que têm a ver com o momento em que eu e a Lili estamos passando. Este ano ela está fazeno ballet pela primeira vez em uma academia e no final do ano pretende prestar exame pro Municipal. Ela tem treinado bastante e eu tenho ajudado como posso para o sonho de minha pequena, que um dia, também foi meu: o de SER BAILARINA. Aí vai a texto:


A MÃE DA BAILARINA


Eugênia trabalhava na roça em Cruzeiro do Oeste. Resolveu vir para Curitiba. Sem estudo, sem nada. Um pouquinho de esperança tinha. Conheceu o pai de Carol no parque. Promessas da amor eterno que duraram até o anúncio da gravidez. Dele, nunca mais teve notícia. Carol veio, nasceu assim mesmo, sem pai. Para criar Carol, Eugênia trabalhava de doméstica. Carol era a melhor coisa na vida de Eugênia. Deixar em casa não tinha como. Faltava vaga na creche. Carol vinha para o trabalho com a Mãe. Os patrões fingiam não ver a menina. Toleravam. Carol ficava na cozinha, roupinhas de criança de segunda mão, herdadas dos netos dos patrões. Eugênia era analfabeta mas sabia que cozinha não era lugar de criança. Levava Carol para a sala quando começava com as frituras. A menininha, que não podia incomodar, que devia continuar invisível, ficava parada, imóvel, na frente da televisão. Carol assistia o que estava passando. Não reclamava. Foi alguma coisa que passou na televisão que fez Carol pedir:
- Mãe quero ser bailarina...
Os patrões acharam graça. Olharam Eugênia, que nem balé sabia o que era. Que olhava surpresa para a filha. Os patrões fingiram acreditar que a menina poderia ser algo. Fingiram. Fingiram ter esperança no futuro da criança pobre. Mas foi em Eugênia que o milagre se fez. E naquele momento Eugênia decidiu, mesmo sem saber bem o que a menina queria ser. Eugênia decidiu, sem saber o que balé era, que a filha seria bailarina. Por que no pedido da filha havia tanta sinceridade. Tanta vontade. Uma vontade que nunca havia sentido. Uma vontade invencível.
E Eugênia começou a correr atrás do sonho da filha. Descobriu que balé era uma dança. Que devia ser aprendido, estudado. Que existiam escolas de balé. Na folga, no almoço, quando dava, pegava o ônibus e ia atrás daquela que aceitasse sua filha. De graça. Dinheiro não tinha. Nunca tinham vaga. A Mãe da futura bailarina insistia. Por que a Carol tinha muito jeito para a coisa, contava para as moças do balcão. Algumas atendiam mal. Outras ficavam com pena. Uma caipira louca que cismou em ver a filha bailarina. Poucas acreditavam. Eugênia continuava acreditando. Não desistia nem se rendia. A Carol tinha pedido o que queria ser. Eugênia ia atender.
Tão cismada ficou com o pedido da filha que não conseguia mais trabalhar. Não pensava em outra coisa. A patroa falou que Eugênia já não mais servia. Tinha perdido o juízo com aquela história toda. Não cozinhava, não cuidava da casa. Não servia, foi mandada embora. Sem dinheiro, sem emprego, Eugênia continuava com a certeza. Veria a filha ser bailarina. Por que era isso que ela havia pedido. E por que as Mães existem pelas filhas. E por que esse é, e sempre foi, o milagre que torna tudo possível. Ao invés de buscar emprego, Eugênia continuou atrás. Atrás de uma escolinha de balé. Descobriu que, se tivesse dinheiro, pagaria as aulas da filhinha. Nem para comer dinheiro tinha. Foi atrás, por que a vida inteira atrás tinha ficado. Atrás de todo mundo. Agora, estava atrás do sonho de Carol.
Bateu na porta de gente rica, no Batel, no Jardim Social. Passou raiva. O que, que absurdo, sem emprego, quer pagar aula de balé? Começou a viver do que davam nas portas. O que davam para a louca que queria ver a filha bailarina. A comer de favor. Já morava de favor. O sonho deixou de ser sonho, virou obsessão. Quanto mais distante parecia, mais força Eugênia sentia. Foi atrás de empresas, disseram que era o caminho. Mandavam para o RH. Não queria emprego. Função já tinha, era mãe da bailarina. Um dia, numa empresa, na Cidade Industrial, chamou atenção de uma moça. A recepcionista já estava quase dispensando Eugênia. A moça que estava de passagem ouviu a conversa, escutou o pedido de Eugênia. Aquela vontade tocou fundo no coração da moça, que já era mãe de uma pequena bailarina. E a magia do pedido de Eugênia entrou no coração da Moça-Mãe. E virou chama. Virou vontade de ajudar. A moça era filha do presidente da empresa. Pegou Eugênia pela mão. Foi entrando, abrindo as portas. Chegou na sala do Pai-Presidente e exigiu, como Carol antes havia exigido. O Presidente em reunião. Gente de fora, do Japão, deputados de Brasília. Pouco importava. A filha do Presidente puxava pela mão a mulher simples. Eugênia olhava para baixo. A Moça-Filha olhou os pai nos olhos. Fez o pedido em nome de Eugênia, no meio de reunião. O Pai, que tinha vindo para o Brasil por que algum dia acreditara em algo, escutou o estória com pressa. Os japoneses da matriz ficaram encantados, surpresos, com a coragem das duas Mães. Sugeriram a construção de uma escola de balé para a comunidade carente. O deputado, disse que buscaria uma verba. Eugênia olhou para a Moça-Mãe, alta, chique, agradeceu com os olhos. A moça retribuiu o agradecimento, agradeceu a Deus por estar no lugar certo, na hora certa. Foi embora emocionada. Chorou quando entrou no carro, lembrando da própria bailarininha, feliz pelo bem feito. Feliz por ter feito Carol ganhar, sem conhecer Carol, uma escola de balé.
A notícia da escolinha correu o bairro. Contrataram em São Paulo uma professora. Trouxeram outra, especialmente da Rússia. Eugênia trabalhava na secretaria. Várias funcionárias, que também se descobriram mães de bailarinas, matricularam suas filhas. E na hora do almoço, entre os turnos, as mães assistiam as filhinhas rodopiando, de sainha rodada cor de rosa. Fadinhas, que faziam as mulheres esquecerem a dureza da vida, os problemas em casa ou no trabalho. Fadinhas que espalhavam uma magia doce, que sustentava os sonhos de todas as mães.
Os anos foram passando, Carol foi crescendo. Eugênia está toda orgulhosa neste Dia das Mães. Emprestou da vizinha uma roupa para ir no Teatro. Última apresentação da filha, antes de embarcar para a França. Entra e senta junto de toda gente chique. Na platéia, Eugênia é a mais importante, fica na primeira fila. Eugênia sorri, com o rosto e com o coração, quando entra a Primeira Bailarina: Carol, toda linda e arrumada. A Carol que queria e conseguiu ser bailarina. A platéia aplaude de pé a leveza da moça, os passos perfeitos. A platéia aplaude, sem saber, a vitória de Mãe Eugênia, que embarca, ainda hoje, antes das cinco, para Paris.

5 comentários:

  1. ME SURPREENDI COM O BALLET CLASICO VEJO QUE É UM PRESENTE DE DEUS PARA MIM E MEU MINISTÉRIO TÃO LINDO QUE ELE ME DEU!!!! ABRAÇOS E MUITA FORÇA PARA TODAS AS BAILARINAS!!!!*****ASS: ANA PAULA BRUZINGA

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  2. ACHEI LINDUH'
    Q BOM AS PESSOAS PODEREM CORRER ATRAS DE SEUS OBJETIVOS,MESMO QUANDO HA OBSTACULOS,PODEM SABER Q HA ALGUEM Q PODE AA AJUDAR ,COM TODO O CORAÇAO!

    QUE POSSAMOS APRENDER E FAZER TUDO PRA GLORIA DE DEUS!

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  3. adoro dançar mas melhor do que isso e dançar pra Deus...

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  4. olha sou bailairina de sgundo ano... semmpre pensei q era um fracasso nos passos mais tentava ser a melhor sempre essa historia me comoveu uma pessoa tao humilde q vai pra França!! aprendi q tenho q acreditar em mim mesma se kiser ser uma bailarina profissional tenhom q mudar minha atitudes afinal soh tenho 11 anos e tenho muito pela frente!!

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  5. Sabe... AAlice já está no segundo ano. Vejo que ballet classico é um sonho de tão lindo. Mas você pode fazê-lo virar realidade. E aí, ficará mais lindo ainda!!!
    Parabéns à todos os balairinos que com muita garra, força e energia alegram nossos dias!

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